Hoje, 20 de junho, Dia Mundial do Refugiado, é mais que uma data comemorativa criada pela ONU (Organização das Nações Unidas). É um dia para a humanidade lembrar e refletir sobre aqueles que enfrentam crises humanitárias em seus países de origem e vivem uma situação de deslocamento forçado em todo o planeta.
Segundo dados da ONU, até o final de 2023, mais de 117 milhões de pessoas permaneceram deslocadas à força devido a perseguições, conflitos, violência e violações de direitos humanos. Desses, 40% – cerca de 47 milhões de pessoas, são crianças. Segundo o representante da Agência da ONU para Refugiados (Acnur) no Brasil, Davide Torzilli, parte desta população refugiada é composta por cerca de 560 mil venezuelanos
Nesse contexto, o Brasil já acolhe mais de 9,4 mil pessoas indígenas refugiadas e migrantes, sendo cinco etnias oriundas da Venezuela, segundo o Painel de Perfil Populacional Indígena do ACNUR Brasil. 67%, cerca de 7.500 indígenas, são da etnia Warao, que significa povo da água em sua língua materna, representando a segunda maior etnia da Venezuela, em quantidade de indivíduos.
Em Roraima, por meio da Missão Roraima Humanitária, a Fraternidade – Missões Humanitárias Internacionais (FMHI), como resposta à crise venezuelana, atualmente, fortalece a cultura dos povos indígenas e a sua inclusão socioeconômica por intermédio do Centro Cultural e de Formação Indígena (CCFI), firmou parcerias e fomentou importantes projetos como as Feiras Interculturais Indígenas, o Programa de Formação Continuada para o Desenvolvimento e a incubação de empreendimentos.
Após a vivência inicial de acolhimento dos migrantes venezuelanos, etapa de gerenciamento de abrigos para refugiados em Boa Vista e Pacaraima, a Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI), através do CCFI, iniciou uma nova fase que proporcionou aos indígenas venezuelanos o fortalecimento da sua cultura e conquista de autonomia a partir da possibilidade de manejo do próprio negócio e da independência financeira.
A Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI), a partir da evolução do diálogo com a Secretaria do Meio Ambiente do município de Boa Vista, apoiou o Projeto Artesania Warao com a conquista da licença ambiental para a colheita da fibra de buriti, que contribuiu para que os indígenas pudessem desenvolver suas habilidades em artesanatos, demonstrando que o processo de colheita não é invasivo, mas se dá em harmonia com a natureza e é autossustentável, isto é, dá margem à autorrenovação do buritizal da região.
O Programa de Formação Continuada para o Desenvolvimento atua em três frentes: língua, tecnologia e cursos técnicos. O Programa alcança artesãos e não artesãos que são inseridos no contexto das capacitações. No CCFI, servidores voluntários da Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI) e instituições parceiras ministram oficinas de educação financeira, cursos de marketing e empreendedorismo, visando transferir conhecimentos e ensinar na prática sobre a utilização de ferramentas financeiras e tecnológicas, técnicas de vendas e marketing digital para que os indígenas migrantes possam continuar suas vidas de forma autônoma.
Por outro lado, as feiras interculturais indígenas são momentos dedicados ao fortalecimento e troca cultural de cada povo indígena entre si e entre o público visitante, onde são realizadas as apresentações de dança, pinturas e contação de lendas e histórias do cotidiano indígena. Outrossim, as feiras constituem ações de fortalecimento da economia local que ocorre por meio da venda de peças de artesanato indígena, uma prática ensinada de geração a geração.
Neste ano, o Dia Mundial do Refugiado se concentra na força e na resiliência das pessoas refugiadas frente às mudanças climáticas, que se tornam cada vez mais frequentes e intensas no mundo. Em foco está a resposta da humanidade frente à exposição dos migrantes aos riscos climáticos que tendem a aumentar cada vez mais.
Dados recentes revelam que 4,3 milhões de refugiados, 580,1 mil solicitantes de asilo e 50,6 milhões de deslocados internos estão em países expostos a altos, severos ou extremos níveis de riscos relacionados ao clima, enquanto também enfrentam conflitos. No final de 2023, cerca de um em cada dez refugiados e solicitantes de asilo, e quase três em cada quatro deslocados internos, viviam em áreas expostas a riscos climáticos extremos.
Hoje é um dia para considerarmos a resignada e intensa movimentação dos refugiados sobre um planeta em mudanças, sua constante luta pela sobrevivência, mas, sobretudo, é momento de “unir-se em uma rede de solidariedade mundial, de busca consciente e planejada de soluções para as crises, de abertura das fronteiras entre as pessoas e entre as nações”, pontua Juan Diego, servidor humanitário voluntário da Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI).