Mães empreendedoras – protagonistas de sua própria história

Independente da nacionalidade, mães são capazes de enfrentar quaisquer obstáculos para proteger seus filhos. Caminham quilômetros em busca de um lugar seguro para abrigá-los, enfrentam as barreiras da língua, as diferenças culturais e precisam superar contextos de múltiplas vulnerabilidades sociais, econômicas e psíquicas impostas pelas condições de refúgio e migração.

Segundo relatório do Subcomitê Federal para Recepção, Identificação e Triagem dos Imigrantes (Migração Venezuelana) publicado em janeiro de 2022, das 689.694 entradas de venezuelanos no Brasil entre janeiro de 2017 e janeiro de 2022, 47% correspondem ao perfil de mulheres e 53%, de homens.

Em busca de melhores condições de vida, as mulheres migram sozinhas ou, em sua maioria, com filhos pequenos (famílias monoparentais) e enfrentam variadas formas de violências. Atualmente, o grande desafio no que diz respeito à integração de mulheres migrantes é a garantia de empregabilidade diante da realidade do perfil de mães solo.

No programa de Estratégia de Interiorização, 54% das mulheres entrevistadas são interiorizadas por meio de reagrupamento familiar e somente 30% são deslocadas com vaga de trabalho garantida.

Mães empreendedoras

Centro Cultural e de Formação Indígena (CCFI), sob a coordenação da Fraternidade –  Federação Humanitária Internacional (FFHI) e o apoio de diversos parceiros, tem como objetivo principal promover a independência socioeconômica da população venezuelana na cidade de Boa Vista, Roraima, por meio da oferta de um espaço comunitário para expressão cultural, capacitação e atividades de geração de renda e promoção do associativismo, cooperativismo e empreendimentos individuais.

Entre as dezenas de pessoas que receberam essas formações estão muitas mães, que, sonhando com a possibilidade de reconstruir suas vidas no Brasil e oferecer a seus filhos a esperança de um futuro melhor, se capacitam em diversos ofícios como corte e costura, informática, corte de cabelo, língua portuguesa, artesanato, pintura de tela, crochê, artefatos de cimento, boas práticas alimentares, confecção de calçados, manicure e pedicure, desenho, pintura de paredes, e outros tantos.

Uma dessas mães é Emília, artesã indígena da etnia Warao, que é componente do Comitê de Artesanato e recebeu o aperfeiçoamento das técnicas repassadas pela equipe do Museu A Casa, possibilitando ao grupo empreender e ter maior repercussão no mercado nacional e internacional de artesanato. Assim, agregam valor à sua arte ancestral e garantem o sustento de seus filhos.

Emília, artesã indígena da etnia Warao

Ensinado ao longo de gerações, o artesanato Warao é uma expressão da identidade cultural desse povo e resiste ao tempo, às mudanças e até mesmo à condição de refúgio e migração forçada.

Hermínia Nunes, 57 anos, também destaca a importância que o artesanato tem para a sobrevivência das famílias, sendo muitas vezes a sua única fonte de renda. “A maioria de nós não sabe ler e escrever, e conseguir trabalho é muito difícil. O artesanato é o que nos garante criar nossos filhos”.

Foto tirada antes do período da pandemia
Foto tirada antes do período da pandemia

Construindo um mundo mais humano e acolhedor, como o amor de mãe

São inúmeros os desafios enfrentados e superados pelas mães refugiadas e migrantes. Ao mesmo tempo em que elas reconstroem suas vidas e de suas famílias, também contribuem para a construção de uma sociedade mais diversa e plural, pois trazem consigo e compartilham com a comunidade de acolhida elementos culturais, saberes e vivências que permitem construir um mundo mais justo e humano, em que a energia do amor materno e do cuidado com o outro prevaleça.

No Dia das Mães, a Fraternidade – Humanitária (FFHI) presta homenagem a todas as mães, em especial, às mães migrantes e refugiadas de todo o mundo.

Feliz Dia das Mães!