A riqueza da diversidade cultural indígena original e histórica em Roraima
Hoje, 9 de agosto, é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Essa data foi estabelecida em 1995 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e visa à garantia da autodeterminação e dos direitos humanos dos povos indígenas de todo o mundo. Foi criada, sobretudo, para enfatizar a importância desses povos para as sociedades, valorizando toda a sua contribuição histórica, política, econômica e cultural.
Importante refletirmos, nesta data, que estão presentes na nossa vida cotidiana as descobertas realizadas pelos povos indígenas no âmbito da música popular, da dança, do artesanato, da culinária e do cultivo de centenas de espécies, assim como outros legados, como os milenares conhecimentos medicinais. Sobre isso, diz-nos Aajhmaná, coordenadora da Missão Roraima Humanitária: “faz-nos lembrar, visibilizar a importância e a valorização que as culturas dos povos originários têm, com práticas e tradições presentes em todas as culturas, em todas as sociedades”.
Alguns estudiosos estimam que os indígenas do Brasil já chegaram a dominar mais de 200 mil espécies de plantas medicinais. Além disso, a riqueza linguística deixada pelos indígenas no Brasil é algo inalcançável por outros países no mundo: 305 povos falando 275 línguas.
Nos dias de hoje, é importante reconhecermos que a inclusão desses povos na nossa sociedade, neste momento de crise, é uma oportunidade para que esses direitos e garantias, previstos na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, possam ser respeitados e preservados.
Migração venezuelana
A Venezuela enfrenta uma crise socioeconômica e humanitária que se iniciou por volta de 2013 e, desde então, estima-se que mais de sete milhões de venezuelanos já tenham deixado o país.
O número de migrantes e refugiados da Venezuela no Brasil evolui a cada ano, com exceção do período entre os anos 2020-2021, em que se manteve estável. Segundo dados do ACNUR (Agência Nacional da ONU para refugiados no Brasil), já são mais de 560 mil refugiados acolhidos no Brasil. Desses, cerca de 9 mil são indígenas que, na sua maioria, ingressam no país pelo estado de Roraima. Em 2024, o Brasil já recebeu mais de 40 mil pedidos de refúgio, o que corresponde a 69% das solicitações recebidas em todo ano de 2023, de acordo com o Ministério da Justiça.
Iniciativas da Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI) para a preservação cultural indígena
Para enfrentar o desafio de reinserir socioeconomicamente os indígenas migrantes, refugiados e locais no mercado de trabalho e promover o fortalecimento e a integração cultural dessas comunidades, a Fraternidade – Missões Humanitárias Internacionais (FMHI), por meio do Centro Cultural e de Formação Indígena (CCFI), desenvolve diversas articulações com organizações internacionais, nacionais e locais.
Sobre as atividades realizadas no CCFI, Aajhmaná explicou que, nas áreas de capacitações técnicas, tanto com conhecimentos técnicos quanto com conhecimentos mais artísticos, como os cursos de panela de barro e oficinas de algodão; na área de empreendedorismo, com conhecimentos em precificação e apresentação do seu próprio produto; nas áreas um pouco mais estratégicas de planejamento do próprio negócio – marketing -; e inclusive na interculturalidade com as feiras interculturais indígenas, tudo isso permite que as pessoas comecem a ganhar um pouco mais de confiança, conhecimento, estrutura e integração no mercado de trabalho de Roraima, mais especificamente na cidade de Boa Vista. Assim, elas vão conhecendo um pouco mais sobre a economia local, trocando ideias com outras pessoas que vendem os mesmos produtos ou que já tenham experiência no comércio local. Essa integração é essencial para permitir a autonomia de cada povo, de cada pessoa, de cada comunidade.”
A Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI) busca conscientizar sobre a importância da preservação da cultura indígena por meio da publicação em mídias sociais, nas datas comemorativas indígenas, de seu amplo acervo de registros de imagens e vivências, construído ao longo de sua jornada na Missão Roraima Humanitária, “porque aí estão nossas raízes, nossa história” enfatizou Juan Diego, servidor humanitário da Missão Roraima Humanitária.
“As palestras realizadas pelos próprios indígenas, ocorridas nas feiras interculturais promovidas no CCFI sobre temas autorreflexivos como a importância do artesanato e da preservação cultural, bem como o intercâmbio cultural que acontecem espontaneamente entre os diferentes povos nas apresentações de danças e exposição de artes, fortalecem a identidade de cada povo indígena e o intercâmbio com o público visitante”, enfatizou Juan Diego.
No tocante ao apoio mais formal que a Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI) presta aos indígenas, colocou Aajhmaná que “a maior dificuldade na formação cultural e econômica é a guia de acesso aos incentivos, divulgação, idioma e prazos”.
A diversidade cultural indígena impulsionada na Missão Roraima Humanitária
Os povos indígenas Warao consideram a árvore do buriti como uma palmeira sagrada e de importância vital, com a qual estabelecem uma relação de vínculo e reverência e de onde retiram recursos básicos para alimentação, geração de renda e habitação.
“Meu avô dizia que a árvore de buriti era nosso pai, nosso ancestral. A árvore de buriti tem uma vida, um passado, um futuro, um presente, porque isso é histórico e cultural. Quando se vê uma árvore de buriti, se vê um ancestral nosso, por isso a valorizamos muito e a respeitamos. Do buriti fazemos a comida, a bebida, o artesanato…”, descreveu a indígena Warao Argenia Centeno, que apresentou a demonstração do processamento e trançado da palha do buriti em uma das edições da Feira Intercultural Indígena.
Nesse contexto, a Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI), a partir dos cursos e projetos voltados ao empreendedorismo, oferece oportunidades singulares para a fabricação do artesanato sagrado dos povos indígenas, viabilizando desde a colheita até o beneficiamento do buriti, principal insumo utilizado pelas artesãs Warao para que possam elaborar suas peças, e, a partir delas, gerarem uma fonte de renda.
A organização também apoia com fornecimento de espaço de trabalho adequado, com insumos para a fabricação de pigmentos naturais, madeira para estrutura de quadros em tela, tinta para tecido, oficinas de fabricação de estrutura para quadros, etc., ao povo transfronteiriço Pemon – Taurepang, que realiza pinturas originais em tela, desenhos em papel, grafismos sobre pele e também sobre fibras de buriti, pedras, madeira e cana.
Com afinco e zelo, os indígenas Eñepa manuseiam sementes na confecção de miçangas, colares e pulseiras, talham grafismos e pintam as madeiras tratadas que dão origem a arcos e flechas decorativos. Esses, por estarem em menor número dentro dos abrigos, são mais tímidos e silenciosos e buscam manter suas tradições e essência, das roupas coloridas às festividades.
A Fraternidade – Missões Humanitárias (FMHI) promove as Feiras Interculturais Indígenas que ajudam a escoar a produção dos 17 povos participantes (dados de 2023). Contando com o apoio de todos, segue adiante com ações que buscam o respeito à identidade sociocultural indígena, protegendo e contribuindo para que os costumes e tradições trazidos pelas famílias migrantes não sejam apagados pela dor e pelas dificuldades e sofrimentos trazidos em uma situação de refúgio.
Ovelio Rodriguez, indígena Taurepang, afirma: “o objetivo do Dia Internacional dos Povos Indígenas é preservar a cultura, a riqueza dos povos indígenas e também para termos direitos como seres humanos”.