Curso de ajudante de obras ofertado pelo CCFI em Roraima

Centro Cultural e de Formação Indígena (CCFI) vem desenvolvendo uma série de cursos de capacitação com oportunidades de trabalho para sua população-alvo: indígenas venezuelanos refugiados e indígenas brasileiros da região.

Nesta ocasião, unindo esforços com o Centro Educacional Macunaíma, estão ministrando um curso de treinamento para trabalhar na área da construção civil, pois esse setor tem uma grande demanda de mão de obra.

Juan Diego, servidor humanitário voluntário da Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI) nos conta: “O curso para ajudante de obra na área da construção civil foi adquirido e pago pela Fraternidade – Federação Humanitária (FFHI) e ministrado pelo Centro Educacional Macunaíma. Teve início em 15 de março e terminará em 7 de junho, sempre no período da manhã, das 8h às 12h.

Mercado de trabalho na construção civil

Esse setor é considerado de grande importância para a economia mundial, pois possui uma forte capilaridade. Afetando diretamente muitos outros setores, atua como um termômetro do crescimento econômico. No Brasil, para cada 14 pessoas empregadas, uma trabalha na construção civil. Isso equivale a 8% de todos os empregos gerados no país.

O ramo da construção civil pode abranger as seguintes áreas: residencial – a mais ampla e com a maior diversidade de caminhos para escolher; comercial – como hotéis, shopping centers, prédios de escritórios, consultorias e diversas obras públicas.

O professor Everaldo, que realizou a capacitação dos indígenas, também enfatizou que a construção civil é uma área com amplas possibilidades de empreendedorismo, pois gera uma demanda em constante crescimento, e o empreendedor ou profissional autônomo pode trabalhar em construções novas ou reformas de prédios, manutenção, instalações e reparos elétricos e hidráulicos.

No mercado brasileiro, esses profissionais são aqueles que realizam pequenas tarefas domésticas e são conhecidos como “faz tudo” ou “marido de aluguel”.

De acordo com a revista Exame, o número de profissionais que se formalizaram como Microempreendedores Individuais (MEIs) no setor de reparos domésticos aumentou 22% nos últimos dois anos.

Teoria e prática

O curso é 100% presencial e tem o objetivo de trazer os alunos para a realidade do mercado de trabalho, pois tem pouca teoria, apenas aquilo que os ajudantes de construção precisam, como noções de cálculos, e eles imediatamente começam a praticar, a se familiarizar com o maquinário que usarão em um canteiro de obras, pois praticam um pouco com cada equipamento, como a betoneira, a esmerilhadeira e outros. Eles também vão a canteiros de obras reais e adquirem experiência prática, tanto observando os profissionais quanto fazendo sua própria prática.

A esse respeito, dois alunos do curso dizem o seguinte:

Udenadiwa de Jesus: “Estamos no curso teórico e prático há dois dias, e eles nos ensinaram a nos organizar e a coordenar as tarefas. Hoje aprendemos os nomes das ferramentas em português, como manuseá-las para evitar acidentes, que são muito frequentes e até fatais. O curso é importante para conseguir um emprego, mesmo que seja para misturar cimento ou fazer reboco fino. Há muita demanda por mão de obra”.

Brayan, que tem 18 anos: “Estou muito interessado em aprender, apesar de ter muita experiência nessa área, e nesses dois dias aprendi sobre o manuseio de máquinas e os direitos dos trabalhadores. Sei que poderei me defender com esse curso”.

É muito importante o enfoque do professor Everaldo em sua atividade de ensino, baseado nas teorias do sóciointeracionismo de Vygotsky, que tenta explicar que todo o aprendizado tem sua origem em um ambiente social e se desenvolve em um contexto colaborativo, ou seja, aprendemos quando interagimos com outros indivíduos.

O professor Everaldo diz: “Meu conceito é que temos que preparar o ser humano como um ser crítico, reflexivo, respeitoso e desperto. Como profissional, tenho que lidar com a totalidade desse conceito para poder entrar no mercado de trabalho”. “Capacitá-los para que sempre saibam lidar com o que as pessoas querem receber, quer gostem ou não, aqui estou preparando-os para isso”.

“Para mim, a inclusão no ensino profissionalizante é isso: um conceito muito mais amplo do que adaptar o braille, adaptar as tecnologias assistivas; é muito mais amplo do que isso, é um conceito de convivência, é um conceito de reciprocidade, é um conceito de honestidade, de altruísmo, de companheirismo”.

Capacitação e atualização

O professor Everaldo também ressaltou que “a capacitação profissional deve fazer parte da vida de qualquer pessoa que queira crescer no mercado de trabalho, inclusive na construção civil”, e enfatizou: “com isso quero dizer que a capacitação e a atualização devem ser constantes, porque o mercado está sempre evoluindo”.

Sobre a importância da certificação, Juan Diego diz: “Um dos objetivos é ambientá-los no mercado de trabalho para que tenham menos dificuldade de ingressar nele. Nosso público é indígena, principalmente refugiados Taurepang, Warao, Yekwana e Kariña. O curso está tendo resultados muito bons, porque as pessoas continuam, há uma boa participação e presença dos alunos. Esperamos que, quando concluírem, eles tenham acesso fácil ao mercado de trabalho. O Centro Educacional Macunaíma compartilha essa visão e tenta garantir que seus alunos tenham acesso ao mercado de trabalho, que saiam com um emprego. Se não todos, pelo menos alguns deles conseguirão um emprego permanente”.